Olhei pela janela.
As estrelas, a lua, o pano negro de fundo. Tudo parecia estar em sintonia, tudo
no seu lugar, uma perfeição inexplicavelmente bela. Tudo menos eu. Observei o
meu quarto. A desarrumação tomava conta deste: roupa por cima da cama, armários
abertos, papéis espalhados pelo chão. Nada que não me seja familiar. Toda esta
barafunda é o espelho do meu coração. Triste. Sem rumo. Perdido. Quando é que a
minha vida irá fazer sentido? Quando é que poderei limpar as incansáveis
lágrimas que predominam no meu rosto? Quero-me encontrar.
Passou uma estrela
cadente. Pensei em bastantes desejos. Demasiados. Mas havia um que predominava.
Eu queria combatê-lo, destruí-lo, torna-lo impossível, mas não consegui. Então
fechei os olhos muito cuidadosamente, reuni as mãos em modo de suplica e
suspirei de forma delicada, quase a medo, muito baixinho “Quero-te a ti.”. A
esperança estava acesa no meu olhar, como duas pérolas muito brilhantes. Sorri
levemente. “Talvez fosse possível” pensei. Mas algo na minha mente me fazia
recuar. O medo. A ilusão. Ou melhor, o medo de me iludir. O medo de estar quase
lá e me perder nas entrelinhas. O medo de tentar escrever uma história que é
impossível de escrever, que envergasse por um caminho obscuro, sem finais
felizes. Ou seja, o caminho que a minha vida estava tomar neste preciso
momento. E eu precisava de uma reviravolta. Tu. Embora eu o negasse.
Olhei de novo a
tela preta. Ou seria cinzenta? Aqueles milhões de pontos pequeninhos, a
anos-luz de distância de mim pareciam-me mais próximos que nunca.
Aconchegantes. Esperançosos. E eu continuei a observar, a sonhar, a imaginar. A
dormir acordada, a desenhar a minha utopia, a ser feliz. E permaneci. “O mundo
parece ser tão perfeito, olhado cá de baixo” suspirei.